sábado, 16 de março de 2013

Treino 43 - Saindo dos trilhos

Talvez tenha sido só um mau dia (e eles acontecem mesmo, e com qualquer um de nós). Talvez seja o caso de rever a estratégia, experimentar outras em treinos que virão. Tempo para isso, ainda há bastante. Talvez esse tipo de prova que escolhi fazer nem seja para mim, tanto física quanto mentalmente, mais esse que aquele. Sei lá. Vou ver. O fato é que nenhuma das minhas trajetórias rumo a qualquer objetivo no esporte foi linear e certinha. Não teve nada droit au but, como o escudo do Olympique de Marseille, meu time de futebol na França (brincadeira, só tenho uma camiseta que ganhei na internet séculos). Sempre foram linhas tortas, e bota tortas nisso, as que me levaram até os pórticos de chegada.
Direto ao gol nada; comigo, é sempre de rosca
O treino deste sábado era um daqueles fundamentais. Não só no sentido mais óbvio da palavra, de essencial, indispensável. Mas também dos fundamentos da coisa toda. Era para enfim começar a simular aquilo que devo enfrentar na prática no final de junho, se é que a prova das 24 horas na pista vai mesmo ser confirmada... Até agora, nada de notícias oficiais sobre a Virada Esportiva em Sampa. Mudança no comando, sabem como é...

Desembucha, Haddad... Tem ou não tem???
Era chegada a hora de fazer experiências. De tentar correr por bastante tempo no mesmo tipo de habitat e terreno que vou encontrar no PET paulistano. De testar e ver se funciona mesmo na prática o esquema de correr tantas voltas, dar uma paradinha por "n" minutos, retomar o passo como caminhada e repetir tudo de novo, enquanto tiver gás e pernas para tanto. De descobrir como vou me alimentar, hidratar, que tipo de suplementação devo (se é que devo) usar. E tantos outros et ceteras. Abri mão, para isso, até de convites para correr na faixa a Meia Maratona de São Paulo no dia seguinte.

Não acredito que perdi os ovinhos de cera, ops, de chocolate...
Talvez meio ansioso, acordei antes mesmo do despertador tocar. Mas propositalmente não muito cedo. Não adianta nada madrugar nos treinos para fugir do calor, se as provas na prática não acontecem nesses horários. Coloquei na bolsa térmica as garrafas d'água e o gelo, na sacola plástica os sachês de gel e as cápsulas de BCAA. E também uma novidade: um pote bem servido de purê de batatas, feito na véspera pela caprichosa D. Janete, minha senhora. O treino até poderia demorar, porque o rango estava garantido.

Não sei vocês... Eu adoro!
Pretendia começar às nove. Mas antes das oito e meia da manhã já estava na pista. De volta ao Poliesportivo João do Pulo depois de quase um mês, quando estreei na temporada lá, rodando boas vinte voltas, a maior parte delas ao lado do veterano Dutra. Imaginei que acharia o centro vazio, com um ou outro gato pingado girando na terra batida. Não gostei do que vi. Na pista mesmo, pouca gente, só feras como o companheiro de Equipe 100 Juízo Mourão e seu promissor filho. Mas uma patota grande se direcionando à arquibancada para ver uma pelada que estava para acontecer, justo no gramado em torno do qual pretendia correr. Curiosamente, um time masculino infantil enfrentando um feminino bem mais púbere.

Ninguém ganha delas...
Até cheguei a começar, usando as raias mais externas. O relógio surtou e marcou o primeiro quilômetro com 4'01'', talvez fazendo uma média entre a minha velocidade e a do Mourão. Mas, quando a molecada foi para o tapete verde e começou marrentamente a ocupar parte da pista, prejudicando o meu treino e o dos demais companheiros de esporte, desencanei de vez. Era algo importante, que demandava foco total. Fazê-lo com estorvos, muito provavelmente não daria certo. Ao completar o décimo giro, qualquer coisa em torno de 4,2 km em 24'35'', fechei a conta, peguei o carro e fui para o Pavilhão.

Hoje o panorama era outro...
Aliás, Pavilhão não, senhor... Agora o nome é Centro da Juventude. Que já servira de concentração e ponto de encontro para dois treinos coletivos, um no meio, outro no final da semana, ambos saindo dali rumo à cidade vizinha de Jacareí. Mas que ainda não havia me apresentado formalmente sua nova pista de asfalto. Menor que a de seiscentos metros que havia originalmente, antes da grande reforma. Mas maior que a oficial de atletismo. 525 metros na pintura de solo, cinco a mais na medida do GPS.

Nós somos jovens
Com apenas metade do primeiro ciclo previsto feito no JP, a meta era dar oito voltas para inteirar os oito quilômetros, fazer a pausa de 15' (a primeira até parece muito; as demais, pouco), rodar duas vezes caminhando. E depois continuar, fazendo os dois outros ciclos, com dezesseis voltas lançadas cada. O primeiro, ok, sem problemas. Fui ao carro, parado logo ali e abri o primeiro sachê de gel, diluído em generoso gole d'água. Pausei dez ao invés de quinze. Dei as duas voltas andando sem pressa nenhuma. Mas, no que fui voltar a correr... Cara, cadê a vontade?

#JaiminhoFeelings
Dei três míseras voltas capengando, parei no bebedouro, voltei a trotar... Não havia sequer a desculpa da molecada dessa vez, eles estavam isolados na pista de skate. Nem tampouco alguma cobra criada do atletismo regional para deixar o pangaré aqui envergonhado. Talvez eu ainda estivesse cansado da sessão de musculação feita poucas horas antes, na noite anterior, inclusive com exercícios (leves) para os membros inferiores. Ou a sensação de abafamento, com sol escondido por detrás das nuvens, mas um mormaço danado, é que estivesse incomodando.

Qualquer que fosse o motivo, o rendimento era perto de zero. Depois de quinze voltas no total, incluindo as duas de caminhada, ao ouvir o relógio soar pela oitava vez (8,02 km em 54'28''), encostei e parei. Desolado. O que estava acontecendo comigo, afinal?

De mim mesmo, não de contar no blog...
Tentaria, entretanto, uma derradeira cartada para salvar o dia (e o treino). Se não havia dado certo nem na pista de atletismo e nem no asfalto, a terceira e última chance seria nos mil e cinquenta metros da pista de terra do Vicentina Aranha. Nada recomendável, por ter mais que o dobro do perímetro regular do local da prova. Mas melhor que voltar para casa de cabeça baixa. Parei bem perto da portaria, servi-me de umas colheradas do delicioso purê da patroa, tomei mais alguns goles d'água e outra cápsula proteica. E recomecei, mais uma vez.

Terra dos pedregulhos
Não seria nada fácil. O corpo até que aguentava bem, mas a cabeça mandava parar o tempo todo. Daria quatro voltas correndo e uma andando no sentido anti-horário, o mais costumeiro. Inverteria a direção logo depois, trotando mais três e caminhando mais outra. Parecia que estava subindo uma montanha, das bem íngremes, e não correndo no terreno irregular, mas plano, do antigo sanatório. Para completar, deixaria momentaneamente o parque, daria um giro em seu quarteirão, passando pela São João, Madre Paula e Nove de Julho. E finalizaria com mais uma volta caminhando, com sprint na reta final de 150 metros. Mais 12,7 km para conta, em 1h34min (andar, claro, joga o tempo lá para cima).

In & out
Tudo somado, chegaria quase aos 25 km de treino, abaixo, mas relativamente perto dos 26,4 km previstos. Quanto ao tempo, contando com as pausas para descanso, reabastecimento (e batatas) e deslocamentos motorizados, 3h46min (ou 1h12min em repouso) decorridos. Bastante próximo das quatro horas encomendadas. Até que não foi tão desastroso, no final das contas. Resisti, bravamente e inúmeras vezes, ao impulso de abortar o treino. E isso é bom. Só não achei que fosse sentir tanto o confinamento. E isso é péssimo, ainda mais para quem escolheu fazer uma prova desse tipo, de pista.

Mas desistir... É ruim, hein? Estarei lá nas 24 horas (as da Virada Esportiva ou qualquer outra que as substituam), nem que seja para ser o último colocado ou caminhar metade da distância. Se não fui capaz hoje, segue a batalha para que me torne, até o dia da prova.

No máximo adio

4 comentários:

  1. Fabião, como está sua suplementação? As vezes está faltando alguma coisa... Abraço!

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    1. Tenho usado as mesmas coisas de sempre, Gilson. Apenas gel e BCAA, basicamente.

      Abraço!

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  2. Força, muitas vezes alguns treinos passam a ser uma questão muito mais psicológica do que física e precisamos treinar a mente também.
    Não tenho dúvida que você fazer a ultramaratona numa boa, força!
    Estou sempre por aqui acompanhando seu treinamento! Você me inspira muito!
    Cássia (cassinhags.blogspot.com.br)

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    1. Esse foi quase puramente psicológico, Cássia. Fisicamente, estou bem a ponto de repeti-lo hoje (claro que não vou fazer, mas...).

      Vou seguir com a preparação, inclusive a mental. De qualquer maneira, o fato de continuar, ainda que mudando os cenários, já mostrou algo positivo.

      Obrigado pelo acompanhamento e pelas palavras. A inspiração é recíproca.

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