terça-feira, 26 de março de 2013

Treino 49 - Rasgando o chão

São José dos Campos é uma cidade de média para grande, uns seiscentos e cinquenta mil viventes moram por aqui. E a área total do município é até considerável, são quase 1100 km². Mas dá, se você for um corredor medianamente preparado, para atravessá-la de uma região a outra só na pernada. Já aconteceu até de fazermos, se não me falha a memória, durante o carnaval de 2012, um treino passando por bairros das cinco zonas, norte, sul, leste, oeste e central. E não foi nem tão maratônico assim... Rodamos uns vinte e tantos "kaemes" naquele dia de folia.


Tudo é relativo...
Ainda meio detonado dos 15 km da véspera, no tobogã de Barueri, mas com vontade de botar para rodar meu presente de aniversário antecipado, um bom, bonito e baratinho tênis Saucony Cohesion 5, resolvi sair por aí, nesse final de tarde de segunda-feira, rasgando o mapa da cidade. O destino poderia ser qualquer um. Por acaso, escolhi que seria o ponto cardeal oposto ao meu. Sou sulista, moro nessa região da cidade praticamente desde que nasci. Apontei a seta para o norte e fui.

Bússola ou roleta?
Falando especificamente sobre o brinquedo novo, a primeira impressão foi das melhores. Não é leve (pesa 360 gramas) quanto o modelo anterior, o ProGrid Ride, que tive da mesma marca, mas achei bastante confortável. E, como eterno corredor parrudão que sou, não tenho muito como me livrar da necessidade de um bom amortecimento. O Cohesion pareceu eficiente também neste aspecto. Deve ser um bom parceiro nos próximos quilômetros que virão.

#TamoJunto e coeso, mano
Sendo sempre aquele cara que escolhe a cada vez um sabor diferente na sorveteria da vida, não fui pelo caminho mais óbvio e curto. Mas a descida da Cidade Jardim é sempre um bom começo. Não tão íngreme a ponto de castigar os joelhos. Mas comprida o suficiente para dar um bom embalo e varrer para longe qualquer chance de preguicite aguda.

Começou, termine
Atravessei para o outro lado do córrego pelo Viaduto Talim. Mas preferi pegar uma das ruas andinas da Vila São Bento, caminhando um bocadinho rumo à Tamoios ao invés de continuar pela Avenida Mario Covas e subir pelo Anel Viário ou a marginal da Dutra. Caminho mais tranquilo e menos poluído. De vez em quando, bate um resíduo de juízo nessa cabecinha torta.

Dublin? Tá mais para Katmandu...
Cruzei a passarela e segui para a região central pela Francisco José Longo, mil e seiscentos metros de um retão quase plano. Dobrei à esquerda ao final da avenida e fui fazer o "S" da curva mais famosa da cidade, lembrando automaticamente que ali, quase sempre é cenário de treino coletivo. A galera faz falta. Mas correr sozinho também tem seus encantos. Vistas da orla do Banhado, as antenas da zona norte, recentemente conquistadas, piscavam sedutoramente ao longe. E as luzes noturnas joseenses eram quem ditava o meu rumo.

Pela luz
Preferi disputar espaço com os passageiros da rodoviária velha (não adianta, a gente não chama de "terminal central" de jeito nenhum!) e descer pela Rui Barbosa ao seguir pela quase deserta Via Norte. De bando, vá lá, até na madrugada. Sozinho é osso. Atravessei o viaduto ferroviário, sem piuí, e estava oficialmente na zona norte da cidade, apenas sete quilômetros depois de sair da zona sul. Já poderia até voltar. Mas preferi avançar mais um bocadinho pelo território do pão de queijo. Dizem por aí, e não por acaso, que o bairro de Santana é a parte mais ao sul de Minas Gerais.

Do ládicá da serra
Hipérboles à parte, o bairro tem mesmo orgulho de sua origem e a da maior parte de seus habitantes. Tem até a Festa do Mineiro, que não é em homenagem (pelo menos por enquanto) ao mega-atleta Vander Maciel, todo ano lá. Nove em cada dez santanenses terminam frases com "uai!". O décimo, ainda adiciona um "sô!". A única diferença entre Santana e uma típica cidade mineira é que a igreja não fica no alto do morro, mas numa bonita, arborizada e plana praça.

Rezar aqui não engrossa a canela
E foi ali que eu concluí a primeira parte do treino, depois de quase 9 km, aproveitando o começo da semana santa para um discreto sinal da cruz e uma rápida prece, ali mesmo na entrada da Matriz. Não sou carola e tenho lá as minhas diferenças filosóficas com o Vaticano (embora tenha simpatizado bastante com algumas atitudes do novo papa portenho). Mas nunca perdi a minha fé. Minha.

Mais ou menos por aí
Descansei um pouquinho, tomei uma aguinha no bebedouro, fiz que ia comprar uma pipoca ou um sorvete. Mas peguei o caminho de volta, inicialmente caminhando. Sentia uma dorzinha leve, mas chata na panturrilha direita, resquício da prova difícil da véspera. Depois de andar por um quilômetro e meio e ficar meio sacudo disso (demora demais!), resolvi voltar a trotar de levinho. Pegaria a avenida paralela e subiria correndo o outro viaduto, ao lado do Parque da Cidade e parte do morrão de volta até o centro. Alternaria caminhada e trote até o final, somando mais quase três quilômetros e fechando o percurso completo com doze. Já que o pessoal da excursão a Barueri dispensara o pastel da feira, fui matar minha vontade no trailer em frente ao prédio onde tive meu primeiro escritório, no começo nos anos noventa. Mandei logo um de calabresa com queijo, no capricho!

A-do-ro!!!
Foi assim o meu último treininho antes dos 42... anos. Um tiozinho corredor de bem com a vida, na medida do possível.

De sul a norte

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