segunda-feira, 18 de março de 2013

Sou hipertenso. E corredor.

A humanidade nunca teve em sua história tanto e tão fácil acesso à informação. Em um jornal de domingo ou portal de internet há mais dela, sem entrar na discussão em termos qualitativos, do que uma pessoa dos séculos anteriores poderia obter durante toda a vida.

Cada vez mais ao nosso alcance
No entanto, o que vem sendo feito com toda essa informação? As pessoas quase não leem? Ok, como alguém que escreveu e vendeu por conta própria um livro, sou o primeiro a concordar com a premissa. Mas será que só ligam a TV para saber quem será o eliminado da semana no paredão? E que só usam a internet para descobrir qual é o meme da vez ou o novo Harlem Shake?

Não vi e não gostei
Apesar desses desvios todos, não me entra na cabeça a hipótese da ignorância. Não consigo conceber, quase na metade da segunda década do (nem tão) novo século, alguém alegando desconhecimento sobre os males e doenças que o sedentarismo, a alimentação desregrada, o cigarro e outros péssimos hábitos inevitavelmente trazem.

Bem por aí...
Não falo nem de ter uma assinatura de TV a cabo ou por satélite e assistir aos soporíferos mas válidos programas do canal Discovery Home & Health. Pode-se (e deve-se) questionar a postura manipuladora e a qualidade de boa parte do que é exibido no plim-plim. Mas há também que se separar o joio do trigo. Programas como o Globo Repórter (a edição da última sexta foi um exemplo) e o Fantástico (em quadros como o Medida Certa e os do Dr. Drauzio Varella) são verdadeiras prestações de serviço ao público. E estão ali, gratuitamente, ao alcance de qualquer um.

A questão não é o canal, mas quem (e o que) está nele
Sabemos, portanto, cada vez mais o que fazer. E fazemos na prática cada vez menos. Achamos que o problema é sempre do outro, que somos eternamente jovens e/ou indestrutíveis. Que aquilo nunca vai acontecer com a gente. Até a bomba explodir aos nossos pés. Não tem jeito. Mais cedo ou mais tarde, a vida cobra, com juros, a conta pelas excentricidades, pelos excessos, pelo descaso com a saúde. Que seja mais cedo, então. Diferente do meu próprio caso, com o meu mea culpa.


Sou portador de hipertensão arterial. Por minha própria culpa, consequência de minhas atitudes negligentes para comigo mesmo. Não porque eu não soubesse que cigarro fazia mal, que achasse que comer até quase explodir fosse bonito ou que ter preguiça, a ponto de ir de carro até a padaria da esquina, tivesse algum glamour. Mas porque pensava como muita gente. Que minha saúde era de ferro. Que nada iria acontecer comigo. Doce ilusão.

Tenho uma doença crônica, que vai exigir de mim cuidados especiais pelo resto da vida. Sigo, por recomendação médica, com a medicação. Repito todos os anos a bateria de exames: ecocardiograma, teste ergométrico, fundo de olho, hemograma completo e outros. Faço visitas regulares (deveria ir até mais vezes!) ao meu cardiologista, também corredor, xará e amigo, principal incentivador da grande mudança que salvou a minha pele.

O "inventor" dessa coisa toda
Mas ela, a hipertensão, não me restringe em absolutamente nada como esportista. Se há limites, eles são os do bom senso, que independem da existência da doença. Evito o consumo exagerado de sódio, não só na alimentação do dia-a-dia (embora não abra mão, eventualmente, de um churrasquinho ou feijoada no final de semana!), como também em suplementos e bebidas esportivas que o contêm. Não sou xiita, gosto de uma cervejinha e nunca neguei isso. Mas transformei seu consumo mais em uma exceção (quase uma celebração entre amigos) do que uma regra. Faço, sempre que possível a aferição dos meus níveis de pressão arterial. Adquiri inclusive um aparelho para controle caseiro. Nunca mais cheguei sequer perto daqueles assustadores 180 x 120 de anos atrás.

São esses números a minha grande conquista
Penso na atividade física, seja ela a corrida, a musculação ou qualquer outra, como mais um e não o único aspecto de uma vida saudável. Nunca como um salvo-conduto para fazer o resto todo errado, como uma garantia por si só de saúde e longevidade. Tento fazer do meu esporte algo que proporcione harmonia e diversão. Gosto, mas não vivo em função de resultados ou recordes pessoais, de tempo ou distância. Não me mato por um segundo a menos ou um quilômetro a mais. Não acho, como diz aquela frase feita, que desistir seja para sempre. Sempre há um novo dia e novas chances para quem persevera (e se cuida bem).


Não quero ser o mais rápido e nem o mais resistente. Mas aquele que segue sempre correndo, apesar da pressão.

Matérias relacionadas:
http://www.webrun.com.br/corridasderua/n/recomendacoes-para-corredores-hipertensos/82/secao/medicina

http://www.copacabanarunners.net/perg0901.html

http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/2012/09/saiba-o-que-e-hipertensao-doenca-que-atinge-grande-parte-da-populacao.html

4 comentários:

  1. Olá Fábio. É lamentável ver que cada vez mais o povo vai aceitando qualquer coisa, qualquer "conteúdo". Sendo que ainda há coisas boas e que agragam bons valores a nós.

    Quanto à sua luta, parabéns pelas vitórias diárias. Parabéns por não se entregar e saber e poder aproveitar a vida e seus prazeres.
    Deus te abençoe

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    1. É aquela lei milenar que rege quase tudo nessa vida, né, Luiz? Se há oferta, é porque também há procura...

      Muito bem dito. A luta é diária e permanente. Tem vitória, tem derrota, tem até empate (hehehe...). E a gente vai levando do jeito que consegue.

      Ele há de abençoar a todos nós, sempre.

      Abraços!

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  2. Olá Fábio,

    Acompanho o seu site, com o arquivo de corridas, já há algum tempo e agora o blog. Comento pouco tanto lá como cá, mas já me considero um admirador. Seu livro está na minha lista (Porém, a lista não está andando muito. É uma pena). Gostei muito desse post. Concordo com sua visão sobre os "conteúdos" e CONTEÚDOS que temos disponíveis na mídia e sobre a visão sobre o papel do esporte (em especial a corrida) na busca de qualidade de vida.

    Sou um corredor relativamente novo. Completo 01 ano de provas e treino agora nesse mês e aos poucos estou aprendendo a curtir mais o esporte. Cada treino e cada prova tem a sua história. Acho que a superação pessoal não está só no fato de melhorar uma marca ou completar um treino conforme planejado. A superação também está em sair da zona de conforto e fazer algo que nos dê orgulho, como:
    - ajudar um amigo numa prova,
    - juntar uma galera legal para um treino em um lugar diferente,
    - fazer um post no blog que inspire outras pessoas,
    - e, porque não, completar aquela prova alvo com o tempo que você planejou.
    O mais legal de tudo isso é que ao praticar o esporte de forma consciente e sem pressão (não estou falando da arterial, rsrs) o que se ganha no processo é saúde.

    Parabéns pelo exemplo de vida.


    Abraços,

    Danilo Confessor
    Blog Confissões de um Confessor



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    1. Obrigado pelo acompanhamento e pelas palavras gentis, Danilo. Com ou sem comentários, sempre bom receber a sua visita.

      Visitei seu blog e gostei bastante. Parabéns pela iniciativa e por todas as vitórias já alcançadas. E siga firme nessa batalha. Grandes 21 km pra você!

      Bela lista. São muitos os motivos de orgulho e satisfação, certamente, os que a corrida, o esporte pode nos proporcionar. Que saibamos vivenciar cada um deles.

      Abraços!



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