sábado, 13 de abril de 2013

Treino 59 - Chove chuva

Quando vi, dias antes, a previsão meteorológica, até me animei. Tanto que cheguei a cogitar uma mudança de planos: substituir as quatro horas previstas para o treino longo neste final de semana por quarenta voltas de 1050 metros cada na pista do Vicentina Aranha. A perspectiva de tempo fechado e garoa fina para a manhã de sábado trouxe de novo à tona aquele inolvidável feriado da república de 2011, quando troquei a Maratona de Curitiba que não pude fazer por um treino solo de 42,2 km pelas ruas e avenidas joseenses. A chance de voltar a fazer algo semelhante, nas mesmas condições climáticas, seria inspiradora. Correr na chuva é magnífico.

Essa foto da Susi Saito é emblemática
Mas, em se tratando de corrida, nem tudo (ou quase nada) é comercial de margarina. Sair debaixo do cobertor quentinho, às seis da manhã, para encarar um treino daqueles intermináveis sob o maior temporal (que garoa que nada!) não é propriamente algo simples de fazer. Confesso que tive vontade de fingir que não ouvi o despertador. Só não o fiz porque sabia da importância daquilo que tinha para fazer. A exatas duas semanas dos 50 km em Praia Grande, essa sessão de pista ganhava feitio de treino-chave.

Caramba! Tá chegando...
Joguei a preguiça, o sono e o frio para bem longe, tomei um café da manhã frugal, deixei a família serrando madeira e me mandei para o parque na região central. Como era de se esperar, àquela hora e naquele dia feio (não para mim), não havia nenhum outro corajoso (ou maluco) por ali. Só bem mais tarde e no breve estio é que apareceriam alguns. Consegui parar o carro na boca da caçapa, o que seria bem útil mais tarde. O vigia de plantão veio até falar comigo, talvez para averiguar minha sanidade mental. Ou falta dela.

Literalmente
O relógio custou um pouco a encontrar o sinal do satélite e eu já começaria a primeira volta ensopado. Não dava para fugir disso. A chuva era forte. A expressão do rosto dos transeuntes na Prudente de Moraes era de perplexidade. Qual era a daquele cara (sou eu)? Não tinha outro dia ou hora para fazer aquilo, não? Não. E não estava nem aí para o que pensava quem passava.

Quem está fora, não entende quem está dentro. E vice-versa
As primeiras voltas seriam em sentido anti-horário, da Nove de Julho para a São João. Eram para ser dez, mas me contentei em fazer apenas oito. Em modestos cinquenta minutos e uns quebrados, ritmo bastante tranquilo para meus padrões. Uma primeira pausa para hidratação e reposição de carboidratos (maltodextrina, a sugestões) e proteínas (BCAA). E a retomada quase imediata, praticamente sem nenhum intervalo para descanso. No começo, tudo parece tão simples.

Só não tinha sol. Nem gente
Quando comecei a girar para o lado contrário, o dos ponteiros, a chuva enfim havia dado uma trégua. O corpo já entendera o recado e encarava a corrida com naturalidade. Cheguei a me empolgar e fazer ilusórias projeções de bater meu recorde pessoal (e extraoficial) dos 42 km. Embora não tivesse qualquer importância prática, fugisse totalmente do foco do treino, fechar as quarenta voltas em 4h12min (sete minutos abaixo da minha marca atual) ou algo semelhante parecia algo plausível. Parecia.

Ultimamente, só esse...
A segunda passagem até que foi boa. Fechei abaixo da primeira, cravando 1h40min redondos ao final da décima sexta volta. Começava a acreditar mesmo em mais um daqueles dias inesquecíveis, de tirar foto do relógio e postar no Facebook. Passei novamente no almoxarifado de quatro rodas e repeti as doses da primeira parada. Tornei a rodar na direção mais costumeira dos treinos em seguida. Mas logo passei a sentir que as coisas não seriam assim tão fáceis.

O choque de realidade veio sob forma de uma parada no meio da volta, assim do nada. Decidi, na mesma hora, que iria diminuir ainda mais as séries de rodagens. Faria apenas quatro voltas em cada sentido, intercalando com escalas no bebedouro. Numa das horárias, lancei mão do recurso de caminhar por meia volta. Adeusinho, recorde mundial pessoal.

Ops... Escapou!
A partir daí, saltando barreiras físicas, mas ainda mais as mentais, prossegui girando, girando... E girando! A chuva, teimosa, voltaria outras vezes, ajudando a manter a temperatura amena, mas fazendo água escorrer pelo rosto (e resto) o tempo todo. E deixando o chão bem escorregadio em alguns pontos da pista. Quando completei vinte e oito voltas, já perto do limite das quatro horas de atividade inicialmente previstas (incluindo paradas, pouco mais de três horas "líquidas"), resolvi que faria apenas mais dois giros, para arredondar tudo em trinta.

Tinha fôlego, pernas (a 30ª e penúltima parcial de quilômetro foi a segunda melhor do dia!) e acho que até cabeça para mais. Mas não julguei necessário. Seis curtos dias apenas separavam esse treino longo do último na rua, com 35 km. Era mais prudente tirar o time de campo e começar a pensar em guardar energias para o dia D. Para quem falhara feio em treinos indoor anteriores, esse havia sido incrivelmente proveitoso. Uma visível e inegável evolução.

Indo muito longe sem sair do lugar
Não foi brilhante como parecia que ia ser... Mas foi, sem dúvida, um belo treino. Mostrando mais uma vez que tenho um bocadinho de coragem (ou parafusos a menos, para quem preferir). E, quem sabe, também de condições de ir atrás dos meus objetivos nesse esporte que escolhi para praticar.

Link no Garmin Connect:
http://connect.garmin.com/activity/297230452

Resumo do treino:

2 comentários:

  1. Vc está mais brilhante em seus treinos que cera Dominó (pise sem dó). Continue!

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