quinta-feira, 4 de abril de 2013

Treino 54 - Pé na Covas

Ela está logo ali, bem pertinho, dá até para ver da janela... Mas eu quase não a uso como palco de treinos. Bem, pelo menos não a parte à direita de onde a avisto. Menos ainda nessa atual fase, de preparação para uma prova 100% plana. Já pelo seu flanco esquerdo, um retão só, sem qualquer inclinação, rumo ao centro da cidade, passo sempre. Não sou mesmo um grande fã de subidas. Longas e íngremes, então...

Nas fotos, acho lindo
A pista que ganhou o nome do velho governador tucano (antes dela, seu acesso foi batizado com o de um veterano militante petista, nesse eterno e sacal binômio do poder) foi uma mão na roda, tirou o tráfego do comecinho da Rodovia dos Tamoios, agilizou bastante a saída e o retorno do litoral. Mas, à noite, é um breu só. Mix de avenida e estrada, tem maluco ali subindo o morro a 120 km/h fácil, fácil... Acaba não sendo, portanto, um dos locais mais seguros da cidade para se correr.

Luz, só do sol. Ou do viaduto para cá
Na verdade, nem pretendia brincar lá nessa noite de terça-feira. Depois de dar uma passada na casa do meu pai para abraçá-lo por ocasião de seu 70º aniversário (a festa ficou para quando ele estiver melhor de saúde), bem mais tarde que o meu horário habitual de treinos, portanto, tinha a intenção de fazer os quarenta minutinhos previstos ainda mais perto de casa, na praça do ginásio esportivo e sua pista cimentada de 330 metros. Mais uma vez, veria meus planos alterados à força pelo carro do fumacê. Ele salva vidas (não a do mosquito, claro). Mas me odeia...

Como treinar na nuvem?
Com pouca margem de manobra, acabei voltando as baterias para o trecho sombrio da avenida, tomando o cuidado, claro, de correr no contra-fluxo. Desci andando e amornando a carcaça até lá. E iniciei, em leve trote, o caminho. Logo de cara, uma amarga lembrança. Ali do lado, a represa do CTA, vulgo Afoga Dedão, onde, numa molecagem dos quinze anos, quase afoguei bem mais do que isso. Só fui salvo porque era cabeludo na época. Por outro, discípulo de Bob Marley.

No woman no cry
O primeiro quilômetro até que foi macio. Inclinação constante, mas ainda leve, suportável. Deu até para responder ao "boa noite" que o letreiro luminoso do ônibus de passagem desejou. Sem forçar muito, concluí em menos de seis minutos. Em contrapartida, o segundo, deve ter bem mais de mil metros... Enxerga-se (àquela hora, não muito) logo à frente o viaduto, a rodovia passando por sobre a avenida. Mas parece que ele não chega nunca. Quando o relógio enfim apitou, juro que ouvi um "ah, pára, ô!"...  E ainda havia um bocadinho mais a escalar.

O inalcançável
Chega a ser engraçado. O tempo todo, faróis altos na cara, gente parecendo duvidar que há ali um doido, correndo na contramão (e escuridão). Aceno. Rio sozinho. O relato vai se autoescrevendo. Alcanço enfim a estrada para a praia. Fosse dia, avançaria por ela mais algum tempo, tranquilamente. É noite, tenho filho pequeno para criar e decido retornar. Mas há dificuldade; e um fosso, separando as duas pistas. Sem ver quase nada, tenho receio de atravessá-lo e sigo em frente, até que ele fique menos inclinado e um providencial caminhão alumiar a travessia. Cruzo uma pista a mais e tenho de voltar ao caminho correto pulando guard-rail. Não perderia a recompensa dessa descidona sem fim por nada desse mundo.

Mereci
Demoro um pouco a me decidir, mas resolvo abrir o compasso, erguer o joelho e relar o calcanhar no traseiro. Não é todo dia, afinal, que dá para brincar de corredor de verdade. Mesmo com a titubeada, chego ao quinto quilômetro com espantosos (para mim) 4'20''. E sensação de que dava para tirar mais dez ou quinze. Comemoro como se fosse um gol, ninguém está vendo mesmo... Paro, retomo rapidamente o fôlego e continuo aproveitando o passeio. E a descida.

Falta porte, sobram quilos, mas até que dá pra enganar um pouquinho
A paradinha custa caro. O fumacê, de quem fugi, me alcança no final da descida e joga um cumulus-nimbus (infelizmente, não da consagrada marca nipônica) nos meus pulmões. Escondo o rosto na camiseta e vou, quase às cegas. Completo os quarenta minutos no pé do paredão de volta ao meu bairro e os sete quilômetros um pouquinho antes disso. Concluo um treino rápido, bobinho, mas divertido e desafiador. Agradeço por ter saúde e disposição para poder fazê-lo. Subo caminhando, paro para alongar (ando em falta com a prática, confesso), vejo ao longe até onde cheguei. Fico feliz e orgulhoso. Espero pelo próximo treino, esse, na valorosa companhia dos amigos.

Vini, vidi, subi (e desci)
Link no Garmin Connect:
http://connect.garmin.com/activity/292935478

Resumo do treino:

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