Mudou tudo...

"Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar"

Guimarães Rosa

Pois é. Numa canetada só, os burocratas do Edifício Matarazzo conseguiram bagunçar todo o meu planejamento esportivo de 2013. Mudaram a data da Virada Esportiva, de junho só lá para o distante mês de setembro. Fazer o quê? Assumi o risco, é bem verdade, ao eleger como prova-alvo um evento público, que sequer havia sido confirmado no início da minha preparação. Aliás, nem em evento privado está dando para confiar muito, haja vista o boné véio que deu no tal Hero Cross (o Colucci conta tudo).

Virou

Chorar pitangas não vai me levar a lugar nenhum. Até poderia seguir treinando para as 24 horas na pista até lá, mas, além da questão climática (junho é junho, setembro é setembro), o intervalo de apenas duas semanas para o desafio em terras lusitanas, marcado para 6 de outubro, inviabilizaria qualquer chance de tentar meu objetivo por lá: enfim fechar uma maratona, minha décima, com um tempo iniciado por três. O negócio é sacudir a poeira e ter flexibilidade o bastante para alterar o planejamento, rasgar a planilha e começar outra do zero, pero sin perder la motivación jamás.

Deturparam tudo

Além do que, não existe treinamento perdido. Esses últimos três meses e meio tiveram um poder transformador e tanto. Neles, voltei a ser capaz, depois de muito tempo, de superar o limite dos trinta quilômetros rodados, ainda que necessitando, para isso, lançar mão do recurso de parar e/ou caminhar. Livrei-me de algo que já estava se tornando pernicioso, uma compulsão absurda (como se já não bastasse a alimentar!) por corridinhas de final de semana, quase cinquenta em 2012. Perdi gordura, ganhei massa muscular, estou em relativa boa forma e, acredito, apto para a estreia em uma ultramaratona. Não tão ousada quanto a que sonhei inicialmente, mas também física e mentalmente desafiadora, daqui a oito dias, na pista de atletismo de Praia Grande. 125 voltas nela.

O bicho vai pegá

Depois verei, com mais calma, como vão ficar as coisas. Mas já vislumbro de antemão boas possibilidades saindo dos escombros dessa aparente tragédia. Uma nova planilha para Lisboa, com dezesseis semanas, começaria teoricamente no início de junho, com período de base em maio. Ganham aí nova chance provas que pareciam riscadas do calendário nesse ano, como o Longão João do Pulo em Guaratinguetá, a Maratona do Rio (seria a minha quinta!) e os 31 km do Desafio Ecológico de Pindamonhangaba. Quem sabe não me animo até a fazer outra ultramaratona, que não seja em pista. Ao mesmo tempo que frustra, a mudança dá também uma agradável sensação de liberdade.

O novo caminho pode ser qualquer um; o longo caminhar, para qualquer lugar

Devem vir por aí mudanças também no plano pessoal, que não estão no âmbito deste blog (já basta encher a paciência dos leitores com o assunto principal). Podem até parecer passos para trás, mas também significar novo impulso para seguir adiante. Que eu possa encará-las sem medo, assim como as esportivas, por mais que elas pareçam assustadoras a princípio. Que eu não me deixe abater, nunca, por nenhuma mudança. Que o começar de novo não me tire ânimo e forças. Que eu siga sendo esse lutador.

Tudo muda, tudo sempre mudará