terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Il dolce far niente

Gosto de correr. "Dããããã, jura?", perguntaria sarcasticamente o leitor mais bully. Mas tenho uma relação das mais salutares com o esporte que escolhi para praticar, já depois dos trinta e começando a colecionar os primeiros tons de cinza. Nas têmporas, não nos livros safadeeeenhos, bom esclarecer.

Conheço esses
Quando vejo gente postando a rodo nas redes sociais que tem quase sintomas de abstinência nos seus dias de folga dos treinos, confesso ficar um pouco assustado. Claro que sei que há um bocado de jogar para a torcida nisso tudo, mas comparar a virtude de correr, de cuidar da própria saúde física e mental, de praticar algo tão benéfico quanto a atividade física inegavelmente é, a algo pernicioso e devastador quanto um vício, acho um pouco fora do tom.

Ousadia? Ou exagero?
Não tenho, felizmente, esse problema. Dia de folga é dia de folga (e vice-versa!). A corrida é parte indissociável e irreversível de minha vida, tenho plena convicção disso. Mas ela, a vida, não está restrita a isso. Há que existir mais, muito mais. Miguel Delgado, CEO Baleias, foi particularmente feliz ao postar no (imperdível) blog da (impagável) trupe coral uma crônica escrita pelo saudoso e brilhante Moacyr Scliar. Não deixe de ler e refletir sobre "O homem que corria".

Se não fosse maluco do asfalto até o DNA, seria Baleia; até a cor bate
Todas as minhas planilhas de preparação para as provas-alvo que fiz até hoje sempre incluíram o chamado day-off (ou será que não tem hífen?). Um dia de sagrado repouso semanal. Não é um dia para correr pouquinho, dar aquele trotinho-inofensivo-só-até-a-esquina-que-não-mata-ninguém. Não é dia de cross training, nadar, pedalar, puxar ferro na academia. É dia de botar as pernas para o alto, a carcaça de molho e de dar uma atenção especial a quem e às coisas que acabam ficando (faço aqui o meu mea culpa) em segundo plano durante a semana de treinos (e, claro, de trabalho), sempre levada bastante a sério. É dia para se divertir, e disso existem inúmeras outras formas que não calçando os tênis. Saber equilibrar isso tudo é uma arte, das mais difíceis, aliás. Quanto maior a distância a percorrer, mais complicado vai ficando...

Lucky there's a family guy
Além das folgas previstas, há também as eventuais. Que também respeito e tiro sem neuras ou traumas. Voltei de Poços de Caldas bem mais judiado do que imaginava. A subida (e descida) do Cristo eram mesmo pedreiras e moeram meus quadríceps e panturrilhas. Tinha marcado na planilha, já ontem à noite, um daqueles treinos mais psicológicos que físicos na esteira, com uma hora e meia de duração. Com batatinhas latejantes, nem ousei arriscar. Forçar a barra e colocar em risco todo o planejamento por causa de um treino, por mais importante, seria um preciosismo tolo e desnecessário. Não sou um corredor compulsivo. Prezo demais a minha saúde. Foi em nome dela, afinal, que tudo começou, não foi?
Me inclua fora dessa
Se estivesse totalmente zerado das dores, juntaria o treino de corrida de ontem (um compacto com os melhores momentos, pelo menos) com o de musculação de hoje. Já estava bem melhor, é verdade. Mas ainda havia resquícios evidentes do estrago feito pelas lombas sul mineiras. Troquei, sem medo de errar, a esteira pela bicicleta ergométrica; meia horinha só. E resumi a série de exercícios àqueles voltados para a musculatura superior. Minhas pernas agradeceram. E amanhã devem estar novas em folha para a volta aos treinos (leves).

Quem faz por merecer, não fica de consciência pesada
"Descanso também é treino?". Sei lá. Filosofia não é muito a minha praia. Mas corro há quase dez anos e não tive, nesse intervalo, nenhuma lesão mais séria. Devo estar fazendo alguma coisa certa...

6 comentários:

  1. Fabio, concordo plenamente com voce e não importa o porte fisico , voce me conhece pessoalmente e sabe que sou magrinho, eu tinha visto um post da Yara Achoa falando que apos a Volta ao Cristo ela estava com as pernas desgastadas com sensação de ter corrido uma Maratona, no domingo pós prova , confesso que me sentia inteiro ,sem dores, e ia voltar de carro dirigindo a SP, e estranhei , mas ao amanhecer na segunda feira, articulações e lombar tudo ok, mas a panturrilha e a coxa totalmente fadigada (lembrou a maratona) , somente apos alongamentos e óleo na região foi o que acalmou, queria correr hoje , mas optei pelo descanço e só volto no sábado sem arrependimentos.... DESCANÇO É TREINO SIM !!!

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    1. Grande Alessandro! A subida (e descida) do Cristo são moedores até de carne de primeira, hehehe... Só vou conseguir voltar hoje aos treinos, e olhe lá. Trotinho leve.

      Parabéns pela sua participação e belíssimo resultado. Bacana te encontrar por lá. Cuide-se bem, bom descanso e bom retorno aos treinos.

      Abraço e até as próximas!

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  2. Como diria o Miguel, que de delgado só tem o sobrenome, "todo baleia é na verdade um 100 juízo".

    Belas considerações! abs

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  3. uhm, deixa eu ver meus sintomas: vício, compulsão... só não tenho o apego à planilha:)
    eu acho os dias sem correr perigosamente bons:)

    :)
    legal o texto!
    o seu e o do scliar:)

    bjs

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    1. Sintomas clássicos de caso perdido, Elis, hehehe...

      Não gosto de perder treino, não! Mas acho que já entramos para um time (você mais do que eu!) que tem algum crédito. Tipo um "quilômetros de vantagens", manja?

      Se foi o Miguel que recomendou, certamente tinha que ser coisa boa.

      Bjs e bons treinos por aí!

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